19.4.24

Olhando da janela alta



Só olho de soslaio, porque, de facto, estou a ler a crónica de Rúben Braga, Homem olhando a janela alta... (Para os interessados, Rubem Braga, Desculpem Tocar no Assunto, edições Tinta da China.)
Lá no alto, o homem avista a senhora "que não se pode alcançar" - nem voando para o equívoco  peitoril da janela... "Atrás de uma árvore sem graça um homem sem graça olha uma janela alta."

Perguntaram-me um destes dias por uma ambulância e pelos polícias que a acompanhavam... Eu não soube responder, porque da minha janela alta não vislumbro o que acontece na entrada do edifício.
A minha atenção já só segue o rasto dos aviões, na expectativa de antecipar a chegada dos drones e dos mísseis... 

18.4.24

O sorriso

Quem observa o Montenegro, desconfia daquele sorriso inocente, de espanto, de novidade . 
É estranho: o sorriso não corresponde àquele apelido. Só que bastam poucos segundos, para que o tom desfaça o efeito do sorriso... palavras estudadas propalam o suave veneno que corrói a alma do Montenegro. 
A encenação sobrepõe-se irremediavelmente à candura anunciada.

16.4.24

Os intocáveis

Vivem numa redoma blindada. E agem como se fossem intocáveis... Visitam-se uns aos outros, como se fossem amigos de longa data... e traçam, em segredo, planos para destruírem todos os que os contrariem...
Agem em nome de religiões obsoletas ou de ideologias totalitárias. O objetivo é sempre o mesmo: conquistar cada vez mais poder... até que, um dia, os amigos devorar-se-ão entre si...
Até lá, o que é triste é ver que as vítimas internas e externas lhes prestam vassalagem..., chegando ao ponto de os idolatrarem, mesmo quando, supostamente, vivem em democracia...

14.4.24

O que eles querem...

 

De Teerão a Telavive, o que eles querem é manter o poder... pouco lhes importa quem é sacrificado. O problema é que os candidatos à hecatombe continuam a aceitar o ludíbrio dos deuses, quaisquer que eles sejam.
(Para apaziguar os deuses, nas hecatombes, socrificavam-se muitos bois e uns tantos cordeiros...)
Para me purificar, vou continuar a ler a Ilíada... havia barcas de todos os tipos e velas de todas as cores; a força era desproporcional, sobretudo, quando os deuses se envolviam nas batalhas; os heróis, semideuses, eram caprichosos, pois, em regra, já sabiam o que os esperava; a cada batalha, as piras cresciam incendiando as noites de outrora...
Por aqueles dias, do verde os arautos pouco informavam...

11.4.24

Plano inclinado

Está cada vez mais difícil entender o que se passa na vida pessoal, familiar e coletiva. Parece que estamos num plano inclinado, em que o dia seguinte é pior do que o anterior. Ainda se tudo não passasse de um charco com abertura para o areal, mas nem isso.
É como se uma força ignota nos tivesse condenado, sem que possamos inverter o caminho. E, claro, insistimos em celebrar a Liberdade, os dias,  cegos pela nossa impotência e, sobretudo, pela nossa soberba.

( O pessimista está de regresso, às voltas com papéis que não consegue arrumar, porque perdeu o fio condutor. Provavelmente, nunca percebeu que o fio era muito frágil e curto. E a ignorância não explica tudo!)

8.4.24

Lumumba - nota esquecida

                 A morte anunciada de lumumba

                A 30 de Junho de 1960, o Congo conquista a independência.

               Patrice Lumumba diz ao rei da Bélgica, Balduíno I, que a independência do seu país é um passo decisivo para a libertação de todo o continente africano, e dita, com estas palavras, o próprio destino. Nomeado primeiro ministro em exercício, passa a viver em regime de residência fixa depois de um golpe de estado liderado pelo coronel Mobutu e apoiado pela CIA. A 28 de Novembro de 1960, Lumumba tenta evadir-se, mas é preso logo em seguida, a 2 de Dezembro, em Port Francqui. Transportado num DC3 para o aeroporto de Léopoldville, Lumumba é violentamente empurrado para dentro de um camião. Um soldado puxa-lhe a cabeça com força para trás a fim de proporcionar uma melhor perspectiva do seu rosto aos fotógrafos. Foi a última foto de Lumumba vivo.

                A 18 de Agosto de 1960, o Conselho de Segurança, em Washington decidira eliminá-lo, ao mesmo tempo que os militares belgas apoiavam Moisés Tshombé, que anunciara a secessão do Catanga...

                Feito prisioneiro e depois entregue aos seus inimigos do Catanga, o arauto do nacionalismo africano é torturado até à morte, a 17 de Janeiro de 1961. O corpo nunca foi encontrado.

5.4.24

Os mandantes e os ajudantes

Tomaram posse 41 ajudantes. Creio que, na sua maioria, vão precisar de muita ajuda. Por mim, tudo farei para não incomodar suas excelências...
E também não lhes vou pedir nada. Estou bem assim. 
O meu único desejo é que Zeus nos liberte de Sua Excelência, o verdadeiro responsável pela instabilidade em que vivemos. 
E já agora espero que as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril sejam discretas e não ações de propaganda como acontecia no Estado Novo.